terça-feira, 30 de novembro de 2010

Era uma vez uma vila de pescadores na beira da praia, quase na divisa do Espírito Santo com a Bahia. Na década de 60, porém, o arraial foi soterrado pelas dunas que avançaram sem dó em função do desmatamento. A turma se mandou para as margens do rio que corta a região e a vida continuou pacata em Itaúnas. Nos idos dos anos 80, a praia escondida por montes de areia fina e dourada foi descoberta pelos mochileiros e ainda hoje se mantém preservada. Graças à criação de um parque estadual em 1991, a natureza pouco mudou e continua a exibir manguezais, riachos, dunas gigantescas e trechos da Mata Atlântica. Já o astral... quanta diferença! Invadida por jovens no verão, o povoado de ruas de terra ganhou pousadinhas, bares rústicos e casas de forró onde a azaração rola solta até o amanhecer.


Riacho Doce: Rusticidade é marca registrada da bela praia
Foto: Tadeu Bianconi
Praia que dá nome à vila é acessível somente depois de enfrentar as dunas
O ritmo ditado por sanfonas, zabumbas e triângulos é tão contagiante na vila que Itaúnas é o cenário do Festival Nacional de Forró, que atrai os fãs do arrasta-pé no mês de julho. O som, como na alta temporada, começa por volta da meia-noite e só terminam quando o sol lança seus primeiros raios. O resultado é praia vazia durante toda a manhã, afinal, é preciso estar descansado para encarar dunas, trilhas e estradas de chão para tomar um banho de mar. A praia que dá nome à vila fica a pouco mais de um quilômetro, mas exige escalar um monte de areia que ultrapassa os 20 metros. Já a selvagem Riacho Doce, uma das mais bonitas da região, é acessada depois de dez quilômetros de caminhada ou de 17 quilômetros sacolejando dentro do carro. Bem mais adiante fica Costa Dourada, contornada por gigantescas falésias.   

Quem está a pé pode optar pelos passeios de bugue, bicicleta, canoa e à cavalo que descortinam paisagens intocadas. A rusticidade de Itaúnas é garantida não somente pela proteção do parque, mas também por seu acesso precário. A partir de Conceição da Barra, cidade da qual a vila é distrito, são 27 quilômetros de estada de terra.
  • Parque Estadual de Itaúnas
   Tel: 3762-5196

AULAS DE CAMPO

AULAS PASSEIO

A aula-passeio é uma atividade planejada pelo professor com a turma com o objetivo de proporcionar ao aluno uma forma mais significativa e mais autêntica de aprendizagem.



A aula-passeio, quando planejada cooperativamente e desenvolvida com critérios, oferece condições para:
  • Enriquecimento de experiências;
  • Desenvolvimento de atitudes de valorização e respeito à propriedade alheia;
  • Integração de diversas áreas de estudo;
  • Desenvolvimento da habilidade de ouvir com atenção, acatar ordem superior e explorar fontes de informação.


Oportunidades da aula-passeio:
  • Durante o estudo de determinado assunto, para maior enriquecimento;
  • Como incentivo, a fim de predispor o aluno para determinado estudo;
  • No final do estudo de uma unidade, para fixação de aprendizagem. Após a realização da aula-passeio, o professor fará uma avaliação com os alunos sobre:
  • Concretização dos objetos relativos ao conteúdo;
  • Comportamento no local e no percurso da aula-passeio;
  • Correlação com outras atividades.


As aulas-passeio devem ser realizadas, sempre que possível, dentro do horário escolar.


Confira abaixo as Aulas Passeio realizadas com as turmas:


Aula-passeio do 6º ano ao Supermercado

Aula-passeio no Dia da Árvore

Aula-passeio com as turmas do Infantil I

Aula-passeio ao atelier Dry Up Automotivo

Aula Passeio no Sítio Itabira

Aula Passeio a Usina Paineiras

Aula Passeio ao Planetário - 2a. série - Ensino Médio

Aula Passeio no Monte Belo - 6º ano vespertino

Aula Passeio no Monte Belo - 6º ano matutino

Aula Passeio Venda Nova - 4º ano - 2008

Aula Passeio 6º ano

Aula Passeio - 1o. ano A.C.D.

SANTA TERESA-ES









  
Em 1874, chegam à região oito imigrantes italianos procedentes do núcleo colonial Conde D’Eu (Ibiraçu). Novas levas são trazidas logo depois pela Inspetoria Especial de Terras e Colonização da Província. Em 1875, ali se estabelecem 60 famílias tirolesas.

No ano de 1876, o núcleo recebe grupos de italianos. No ano seguinte, colonos procedentes da Alemanha e da Suíça estabelecem-se no vale do rio Vinte e Cinco de Julho, enquanto imigrantes poloneses fixam-se ao longo do rio Cinco de Novembro.

Em 11 de novembro de 1890, pelo Decreto estadual nº 53, é criado o município e, em 22 de fevereiro de 1891, instalado.
Estudos sobre imigração italiana no Espírito Santo
Luiz Busatto
Historiador e Professor da UFES
Notas sobre Santa Teresa
1. O nome de Santa Teresa — 2. Os polacos no Timbuí — 3. Os passageiros do Rivadavia
As cidades do Espírito Santo fundadas por imigrantes italianos ainda não têm a história escrita que merecem, porque a história vai se completando e corrigindo como um mosaico. Cem anos de colonização deveriam ter sedimentado hábitos, costumes e tradições familiares, o que , de fato, não se verificou. Um capixaba de quarta geração não sabe o nome dos bisavós e esta falta de memória cultural se justifica por diversas causas. O que se publicou e se publica em matéria de imigração italiana não teve base de pesquisa em fonte documental segura, mas preferiu a tradição oral, de modo que os fatos, muitas vezes, são interpretados na sua particularidade pitoresca. À falta de cultura letrada deve-se acrescentar que a segunda guerra mundial e a existência do integralismo como partido político provocaram a destruição de muitos documentos pessoais das famílias, que pudessem identificar a origem dos imigrantes. Houve colonos que trocaram de nome ou o abrasileiraram para evitar perseguição política e outros inconvenientes com o governo de Getúlio Vargas.

Santa Teresa é, atualmente, a mais comentada de nossas ex-colônias italianas. Alguns documentos do Arquivo Público Estadual do Espírito Santo trazem informações que divergem das versões pitorescas. A primeira delas diz respeito ao nome da atual cidade "Santa Teresa". A segunda é a de que foram os "primeiros" colonos a chegarem ao núcleo Timbuí.

Este trabalho pretende mostrar que: 1. O nome de Santa Teresa é anterior à chegada dos tiroleses àquele local. 2. Os primeiros colonos que ocuparam a região do Timbuí foram polacos e algumas famílias da malograda fazenda "Nova Trento" de Pedro Tabachi. 3. Somente depois os tiroleses do navio Rivadavia ocuparam o lugar central do núcleo e tiveram a sensação de serem os primeiros e reais fundadores do local.

Basta a leitura do documento oficial escrito pelo então Diretor interino da colônia de Santa Leopoldina, Pedro de Sant`Anna Lopes, em 1875, na íntegra, para que se tenha uma noção das três afirmações mencionadas acima:

Colônia de Santa Leopoldina, Porto do Cachoeiro, 11 de julho de 1875.

Ilmo. E Exmo. Sr.
A conveniência da criação quanto antes de uma colônia nas fertilíssimas matas do Timbuí, torna-se cada vez mais urgente.
A colônia de Santa Leopoldina acha-se já em tal estado de desenvolvimento, que já se pode ir cuidando de sua próxima emancipação; quase que todos os colonos já se acham em condições de poderem dispensar a tutela do Estado, e grande número deles já possuem fortuna relativamente sofrível.
A continuar a remessa para ela de emigrantes em número avultado, ocasiona o acréscimo progressivo de sua despesa, e na sombra dos colonos novos os velhos continuam no usufruto dos favores do Estado, sem que seja possível evitar esse abuso.

Além disto acresce que a colônia abrange uma grande extensão de território coberto com uma grande rede de estradas e caminhos e muitas pontes, cuja conservação e prolongamento deles à proporção do seu desenvolvimento para o centro acarreta grande dispêndio. Os últimos emigrantes acham-se estabelecidos a 8 e 9 léguas do Porto do Cachoeiro.
Acresce mais que os terrenos devolutos em rumo de sul já escasseiam e a cada passo se encontram terrenos ocupados por particulares residentes no Galo, Chapéu e Pedra Branca.
Assim, pois, julgo conveniente que esses terrenos fiquem reservados não só para o futuro desenvolvimento da cultura dos colonos atuais, como também para o estabelecimento dos filhos destes, logo que atinjam idade legal.

Deste modo o Governo poderá daqui a quatro anos decretar a emancipação desta colônia, fazendo-a entrar na massa comum da população.
Para poder-se chegar a este fim convém desde já encaminhar a emigração para o Timbuí onde já existem emigrantes polacos estabelecidos há dois anos, e onde acabo de estabelecer os italianos recém chegados.
Este novo núcleo desenvolve-se à margem da antiga estrada de Santa Teresa, acompanhando no princípio o rio do Norte e depois o rio Timbuí; comunicando-se com o Porto do Cachoeiro pela estrada do Timbuí e com a colônia de Santa Leopoldina pelo centro.
Prevendo o futuro desenvolvimento da colônia do Timbuí escolhi quatro prazos em lugar conveniente para o estabelecimento da futura povoação na estrada de Santa Teresa, margem do Timbuí, onde mandei derribar o mato e construir um grande barracão.
Deste ponto ao Porto do Cachoeiro, no estado atual dos caminhos gastam-se seis horas.
Se o Governo quiser criar a nova colônia o poderá fazer desde já, visto já estar satisfeita a condição de medição e demarcação recomendada pelo regulamento de 1867, para a criação de novos núcleos coloniais.
Se for criada a nova colônia posso assegurar o seu próspero futuro, pois há mais de mil e quinhentos italianos austríacos que, a convite de seus parentes e amigos daqui se preparam para emigrar para cá.
Ao Governo compete resolver como julgar mais conveniente.
Deus Guarde a V.Exa.
Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Domingos Monteiro Peixoto: D. Presidente desta Província.
O Diretor interino Pedro de Sant"Anna Lopes.

1. O nome de Santa Teresa

Uma questão clara neste documento é o nome de Santa Teresa. "Este novo núcleo (Timbuí) desenvolve-se à margem da antiga estrada de Santa Teresa" diz Pedro de Sant`Anna Lopes. E repete logo a seguir: "escolhi quatro prazos em lugar conveniente para o estabelecimento da futura povoação de Santa Teresa, margem do Timbuí...". A estrada de Santa Teresa foi iniciada em 4 de setembro de 1848 sob a Presidência de Antônio Pereira Pinto e está presente em quase todos os relatórios dos presidentes da Província, além de aparecer em centena de documentos do Arquivo Público Estadual. Quem fala dos erros desta estrada e do seu traçado é o engenheiro Gabriel Emílio da Costa no seu relatório de 8 de janeiro de 1873, dois anos antes do estabelecimento dos tiroleses no núcleo do Timbuí, época da chegada dos polacos à colônia de Santa Leopoldina. Assim escreve o engenheiro sobre a referida estrada:
Falando rigorosamente o Rio Doce não possui vias de comunicação que se possam chamar regulares. A estrada para Minas não passa de uma picada tortuosa e mal feita por onde os mineiros rompem até a Natividade. Da Natividade em diante existe estrada a de Santa Teresa, até a vila da Serra e Vitória. A estrada de Santa Teresa que na opinião de muitos só tem servido para sobrecarregar os cofres públicos, não tem atraído como era de esperar os gêneros da produção mineira para o comércio da Vitória; passam-se meses sem que ela seja transitada por uma viva alma. A causa disto é fácil de explicar: a estrada de Santa Teresa a cuja construção não presidiram os estudos indispensáveis quanto à direção, terminando na Natividade estabeleceu uma comunicação não com a Província de Minas e sim com um ponto insignificante de Minas. Para que houvesse comunicação entre as duas Províncias era necessário ou que a estrada de Santa Teresa fosse adiante ou então que a Província de Minas entroncasse algumas das suas estradas na de Santa Teresa. Se a estrada de Santa Teresa tivesse para ponto terminal a florescente freguesia de Caratinga, por exemplo, podia-se com razão esperar que os mineiros procurassem o mercado da Vitória pois além de outros pontos haveria estrada para a cidade de Ponte Nova, Freguesia de Abre Campos e Vermelho, Arraial das Antas, Caratinga e em outra direção com a cidade de Itabira Joanésia por que de todos estes pontos existem estradas regulares até a freguesia do Caratinga. Não falo nas comunicações com o Norte da Província de Minas as quais por serem as mais importantes são também as mais dispendiosas. O Serro, o Peçanha e outros povoados ao Norte de Minas não comerciam com o Rio Doce porque não podem chegar até ele. Enquanto a Província de Minas não atender para esta deficiência todo o passo dado para a desejada comunicação de Minas com a Vitória pela estrada de Santa Teresa é baldado. Com efeito, do Timbuí até o Crubixá poucas situações existem ao longo da estrada de Santa Teresa e daqui em diante, até a Lage mais de quinze léguas não se encontra um único habitante. Da Lage até o Guandu existem alguns moradores intrusos, mas estes têm mais facilidade e menos dispêndios em mandar e receber gêneros pelo Rio doce. Se a Província de Minas julgar de interesse oferecer aos seus centros produtores uma comunicação franca para o litoral da Província do Espírito Santo e se esta atender à necessidade de modificar o trânsito pela estrada de Santa Teresa de modo a aproximá-la de um mercado livre com o da vila de Santa Cruz que sem contestação alguma é preferível ao da Serra e mesmo ao de Vitória por faltas de pastagens, não deve causar espanto aos pessimistas que a estrada de Santa Teresa se torne um poderoso contribuinte para o aumento das rendas da Província.
A estrada de Santa Teresa era uma das quatro vias de comunicação, na época, que ligava esta Província com a Província de Minas. Se bem que precária, sua história e seu traçado são inconfundíveis. O famoso e colorido mapa impresso em 1878 que acompanhava a Breve notícia descritiva sobre a província do Espírito Santo, organizado pela Inspetoria Geral de Terras e Colonização, mostrava o traçado de "inclusive a via férrea projetada desde a cidade de Vitória até as proximidades da povoação denominada "Porto do Souza", a qual está situada a pequena distância da margem direita do Rio Doce". Esta via férrea passava por Santa
Teresa e os engenheiros se utilizaram do primeiro mapa do núcleo Timbuí onde estão marcados os quatro prazos mencionados por Sant`Anna Lopes.

O primeiro mapa do núcleo Timbuí continua inédito. Datado de 1876, apresenta a estrada de Santa Teresa cortando o rio Timbuí no exato local da medição dos quatro prazos demarcados por Sant`Anna Lopes.

A origem do nome de Santa Teresa é, pois, anterior à chegada dos imigrantes tiroleses. Se se perguntar porque esta estrada iniciada em 1848 tinha no nome de Santa Teres não parece difícil a resposta. Basta lembrar que a estrada que ficava mais ao sul e se dirigia para Minas chamava-se São Pedro de Alcântara. Ambas homenageavam o Imperador Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina.

Querem alguns, com toda a devoção, que o nome ao lugar foi dado por uma imigrante muito religiosa de nome Teresa Roat, avó do cientista Augusto Ruschi, que possuía uma imagem da tal santa e a colocava no oco de uma grande árvore e onde proferiam suas orações. Com todo o respeito ao famoso cientista e aos demais católicos de Santa Teresa — a religiosidade dos italianos é um traço fundamental da sua identidade — deve-se dizer que não eram os imigrantes que davam nome aos núcleos. O Regulamento para as colônias do Estado, de 19 de janeiro de 1867 dizia logo no Artigo 1o. "As colônias do Estado serão criadas por Decreto do Governo Imperial, com a designação do respectivo nome e distrito colonial previamente escolhido, medido e demarcado por engenheiro do Governo." Ora tal se dera com o nome da colônia de Santa Leopoldina, nome da esposa de Dom Pedro I. Os núcleos recém criados nesta colônia em 1875 e 1877 receberam os nomes de Timbuí e Santa Cruz, respectivamente. E os demais seguiram a regra, o artigo 1o.: Alfredo Chaves, Antônio Prado, Acioli Vasconcelos etc. e continuaram após a proclamação da República com Moniz Freire, Afonso Cláudio, Colatina, etc. Como se dissesse "Timbuí, na estrada de Santa Teresa..." por força da religiosidade e bem mais tarde, prevaleceu o nome de Santa Teresa, enquanto que a mesma religiosidade não prevaleceu no núcleo Santa Cruz que já está no seu oitavo nome e hoje conhecemos como Ibiraçu.

2. Os polacos no Timbuí

A segunda questão a se considerar no documento de Sant`Anna Lopes diz respeito aos primeiros habitantes do Timbuí. Diz ele: "convém desde já encaminhar a emigração para o Timbuí onde já existem emigrantes polacos estabelecidos há dois anos." Isto é confirmado por um longo relatório do Diretor da Colônia de Santa Leopoldina, Bernardino B. da Cunha Bastos, datado de 27 de janeiro de 1873 e enviado ao Presidente da Província, João Tomé da Silva.
Tendo chegado nos primeiros dias do mês corrente os imigrantes vindos nos barcos Zorida e Herlig Oscar Frederick fiz o quanto me era possível para hospedá-los convenientemente. Assim, não só por falta de casa própria no porto do Cachoeiro, para receber tão grande número (500 pessoas) como também por não ser conveniente deixá-los aglomerados em estação tão imprópria, tratei de dispersá-los pela colônia, o que não pude conseguir por eles não se quererem separar. Com muito custo consegui dividi-los em quatro porções, ficando uma no barracão do porto do Cachoeiro, outra na casa junto da Igreja Católica, outra nas quatro casas que o Sr. Gonçalo Pinto de Amorim Machado me fez o favor de emprestar para este fim e outra, finalmente seguiu para os trabalhos do Engenheiro Dr. Pedro de Albuquerque Rodrigues que os tem acomodado convenientemente.
A presença dos polacos gerou uma série de problemas para as autoridades e também para os outros imigrantes e, neste mesmo sentido, continua escrevendo o Diretor:
Cumpre-me declarar que os antigos colonos aqui estabelecidos e mesmo os Pomeranos que vieram nos barcos Zorida e H. O Frederick não fazem liga com os demais que são por eles denominados Polacos, pedem para que os estabeleça em separado, e alegam serem os tais Polacos muito revolucionários e ladrões. Estou convicto da conveniência de atender-se a tão justo pedido e tenciono estabelecer os Polacos nos lotes que forem sendo medidos pela Comissão a cargo do Dr. Pedro de Albuquerque Rodrigues que ficam bastante separados, isto se V. Exa. Não determinar o contrário
O Regulamento de 19 de janeiro de 1867 dizia que os imigrantes tinham o direito a subvenção e comida durante os seis primeiros meses e os Polacos, instigados e instruídos por um tal Sr. Tesch, que pleiteava um cargo de agente consular, não quiseram mudar-se para as colônias no tempo estabelecido. Alegavam três motivos: falta de colônias medidas para todos, falta de assistência médica e, finalmente, salários diminutos. O que realmente pretendiam os polacos era dar o golpe no governo e se retirarem para outra colônia onde, depois de seis meses, procederiam da mesma maneira. Por esta altura dos acontecimentos, 7 de junho de 1873, o Dr. Pedro de Albuquerque Rodrigues era nomeado Diretor da Colônia de Santa Leopoldina e é ele que, vendo os polacos das casas do Sr. Gonçalo se retirarem dizendo querer voltar para a Europa, pede 15 a 20 homens da Guarda Nacional para forçá-los a se mudarem par aos prazos medidos e impedir a seguida dos mesmos para Vitória. No dia 17 de julho o Diretor não pôde comparecer a uma reunião com o Presidente da Província em Vitória, e se desculpa porque teve que "procurar ver se consigo dissuadir um grande número de Polacos que existem nos mesmo trabalhos e segundo sou informado, estão mudando-se daqui para o Porto do Cachoeiro." Primeiro foi à mata e logo no dia 19 chama o Presidente da Província para combinar a ação dele com o oficial da Guarda Nacional. Passados mais dois dias:
Todos os Polacos, com exceção talvez de 15 a 20 famílias se tanto estão reunidos aqui no Porto e convenientemente armados, perfazendo um número de mais ou menos cem homens. Não obstante a rivalidade que existe entre Alemães e Polacos nem um recurso posso esperar daqueles no caso de um conflito pois dizem eles são também Prussianos, e pelo contrário entre os últimos chegados talvez encontremos alguns inimigos.
Estabelecido o impasse, o Diretor escreveu no ofício no. 36 de 28 de julho de 1873:
...remeto a V. Exa. o mapa incluso em o qual se declara o nome de todos os chefes de família Polacos existentes nesta Colônia, data de sua estada na mesma, quais deles receberam prazos e o seu local, e os que ou recusaram-se definitivamente ou se acham duvidosos. Quanto aos motivos que levaram essas famílias a não aceitarem prazos e resolverem retirar-se nem um há que mereça sérias atenções.
O mapa estatístico tem os seguintes dados: 48 colonos aceitaram prazos sendo que dentre eles 31 na Colônia de Santa Leopoldina e 17 colonos polacos no Timbuí; 27 recém chegados duvidavam; 59 colonos recusaram os prazos; estes 59 se retiraram para Vitória em duas turmas, 30 em 25 de julho e 29 em 29 de julho do mesmo ano; um ficou hospitalizado em Vitória; o total somava 135 famílias e o número médio de membros por família era de 5 pessoas.

O Diretor não deixou de escrever ao Presidente da Província com pesadas considerações quanto ao comportamento dos colonos:
As concessões que eles obtiveram foram por demais nocivas à regularidade dos serviços da colônia: para calmar o seu gênio turbulento permitiu o meu antecessor que trabalhassem até meninos de 8 a 9 anos de idade (...) e forçoso é confessá-lo que quase tanto merece o menino como o homem pois o trabalho de um deles não vale em consciência mais de 400 réis diários. A ociosidade, o descaramento, a ratonice, o gênio desordeiro são os caracteres distintivos do Polaco. Por conveniência e moralidade do serviço fui forçado a não deixar sequer um Polaco nas turmas em que trabalham os Alemães (Pomeranos) pois o seu contato era por demais sensível ao serviço. Essa gente foi como uma praga lançada sobre esta Colônia: a passagem de um grupo deles é sempre perfeitamente traçada pela destruição e roubo ou furto de algum objeto. Tudo lhes serve; alguém pode ficar tranqüilo diante desses, talvez, antigos fregueses das casas de correção de Possen? Alguém julga-se tranqüilo diante desses verdadeiros bandidos?
Os restantes que permaneceram, demonstrando serem de boa paz, foram colocados nos confins da Colônia de Santa Leopoldina, no Baixo Timbuí, numa medida discriminatória. São os fundadores de Santo Antônio dos Polacos. Foram eles:


Nome Esposa Lote Navio Membros
familiares
1. Franz Okonski Mariana 9 Zorida 7
2. Joseph Ziemanoski Eva 21 " 5
3. João Hasse Johane 19 " 5
4. Johan Hasse
(filho do anterior)
7 "
5. Valentin Gdanitz Veronica 8 " 6
6. Joseph Eiclolz Maria 25 H.O. Frederick 3
7. Johan Selenski Rosalie 17 " 3
8. Johan Latozewski Mariana 15 " 6
9. Johan Fiertalski Francisca 23 " 4
10. Joseph Grabowski Maria A " 5
11. Franz Pszecka Cecilia 13 " 5
12. Johan Dobrowoski Veronica 16 " 5
13. Franz Grabowski Catharina A " 6
14. Thomaz Grabowski
(filho do anterior)
A "
15. Augusto Quanta Mariana 31 " 5
16. Joseph Shilitz Francisca 27 Marie Heydon 5
17. Thomaz Shilitz Mina 29 " 3


Foram estes, oficialmente, os primeiros habitantes do Timbuí, antes mesmo da sua criação como núcleo. Estes polacos não devem ser confundidos com os imigrantes poloneses que mais tarde vieram ao Espírito Santo, já que a experiência com os polacos ficou encerrada com o acontecimento de sua retirada. O lugar, mais tarde, chamou-se Santo Antônio dos Polacos.

Com a ampliação da área das medições de colônias em Santa Leopoldina, uma nova frente se estabeleceu na direção do rio Timbuí passando pelo rio do Norte. Para esta região se dirigiram numerosos remanescentes da extinta colônia Nova Trento de Pedro Tabachi, em Santa Cruz. Estes italianos enviaram um requerimento ao Presidente da Província pedindo um professor na pessoa de Paoli Giuseppe. Sant`Anna Lopes escreve aos 9 de junho de 1874:

No dia 24 de setembro do mesmo ano, Pedro de Albuquerque Rodrigues escrevendo sobre a área a adicionar-se à colônia de Santa Leopoldina, informou:

Para NE estendem-se até o Rio Doce, creio que uma distância provável de 4 a 5 léguas, contadas da parte já colonizada da estrada de Santa Teresa e onde atualmente estão agrupando-se os italianos: é evidente que prolongar a colônia nessa direção a ganhar o Rio Doce seria de vantagens reais. E pondera: Para que misturar Saxônios e Italianos que preferem o Timbuí com Pomeranos e Renanos que preferem o Oeste (Califórnia)?

Nesta ocasião já existiam 4 barracões na região do Timbuí. Eram construídos de madeira roliça e cobertos de palha. No dia 5 de janeiro de 1875 registra-se o recebimento de 130 imigrantes tiroleses em Santa Leopoldina. São os de Nova Trento que foram transferidos. Toda uma vasta movimentação de pessoal imigrante se registra nesta ocasião e tal fato chega a assustar os administradores. Em maio de 1875 Sant`Anna Lopes diz:

Neste momento acabo de receber o ofício de V. Exa. datado de 24 do corrente sob no. 89, comunicando-me a próxima chegada de 350 imigrantes Tiroleses com destino a esta Colônia. Ficam dadas as providências precisas para o alojamento dos mesmos. Cumpre-me porém, ponderar a V. Exa. que me parece inconveniente a vinda de imigrantes em número tão crescido na quadra atual, em que esta Colônia está lutando com a epidemia de varíola e febres intermitentes, moléstia esta que não tem excetuado nem aos naturais desta localidade; mesmo eu acho-me há 3 dias de cama sofrendo febres.

Entre estes 350 estão os fundadores da cidade de Santa Teresa.

3. Os passageiros do Rivadavia

A referência anterior a 350 imigrantes tiroleses diz respeito aos que chegaram no navio Rivadavia, ao Rio de janeiro. Depois da quarentena, que nunca era de 40 dias, vieram para Vitória em dois grupos, nos navios nacionais Ceres e Bahia. A primeira lista do primeiro grupo foi feita pelo curador dos imigrantes Frederico Meyer, na Agência Oficial de Colonização, em 28 de maio de 1875 e se intitula: Relação dos imigrantes que no dia 29 do corrente seguem para Vitória com destino à colônia de Santa Leopoldina no vapor CERES. Estão enumerados 154 imigrantes. A segunda lista do segundo grupo foi feita por Kurt K.F. Vincent, na Agência Oficial de Colonização com data de 31 de maio de 1875, com o título: Relação dos imigrantes que no dia 1 de junho de 1875 seguem para Vitória com destino à colônia de Santa Leopoldina no vapor BAHIA. Estão enumerados 163 imigrantes.

Esta listas apresentam sinais de chave marcando o grupo de cada família, nomes que foram cortados e que se supõe não viajaram, número do lote sorteado quando da sua distribuição no já então núcleo Timbuí, etc.
Em cumprimento às ordens de V. Exa. de 10 do corrente sob no. 100 [escreve Sant`Anna Lopes ao Presidente da Província] tenho a honra de passar às mãos de V. Exa. cópia das listas dos imigrantes que vieram nos vapores BAHIA e CERES, procedentes do Rio de Janeiro.

Um mês antes, o mesmo diretor da Colônia de Santa Leopoldina achava inconveniente a vinda de um número tão grande de imigrantes no período em que a colônia era assolada pela varíola e por febres. Recebeu, pois, ordem terminante para fazer pernoitar os imigrantes na fazenda Nova Coimbra no penúltimo dia de viagem. Tal medida visava a impedir o contato dos recém-chegados com os colonos do Porto do Cachoeiro e não deixar ninguém atravessar o rio. Para isso ficou calculado que os tiroleses deviam chegar a Nova Coimbra pela noitinha, às 5 horas da tarde quando já começa a escurecer. Estas medidas "isolacionistas" deram aos fundadores de Santa Teresa a sensação de pioneiros, pois não viram ninguém no seu trajeto. Saindo de Nova Coimbra foram direto para os barracões e depois para os lotes no meio da mata. Sabe-se disto porque o Diretor da colônia escreveu no dia 5 de julho de 1875: "Por ocasião da entrega dos lotes de terras aos imigrantes recém-chegados seis de entre eles se internaram tanto nas matas do Timbuí que extraviaram-se; 24 horas depois apareceram 4, faltando 2". Um mateiro de nome Benedito de Oliveira Lemos encontrou os dois bastante extenuados de fome e de fadiga e os conduziu ao barracão.

Estes e outros dados sobre os primeiros colonizadores de Santa Teresa podem ser estudados no volume G 7 1 do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.

No incluso requerimento os Colonos Italianos ultimamente chegados a esta colônia, vindos da Colônia de Pedro Tabachi, pedem um professor para lecionar seus filhos; e dentre eles Paoli Giuseppe, pretendendo este encargo, apresenta os documentos juntos como prova de sua habilitação para o magistério...



Igreja Matriz de Santa Teresa

Foi erguida no local onde os primeiros imigrantes italianos rezavam em torno do quadro com a imagem de Santa Teresa D'Ávilla, trazida da Itália por uma devota. Atualmente a imagem está exposta no Museu Seráfico São Francisco de Assis. A cidade ganhou o nome de Santa Teresa devido a esta imagem.
No local onde os colonos se reuniam para rezar foi construída uma capela e realizada a primeira missa, em 1880. A pedra para a construção da igreja atual foi lançada em 1902 e a obra concluída em 1925.

Ao lado da igreja foi instalado o Monumento Cinqüentenário da Imigração Italiana, onde estão grafados os nomes das primeiras famílias que chegaram ao município.


Localização




Reserva Biológica Augusto Ruschi

esta reserva possui uma área de 3.600 hectares, com 56 km de perímetro. O relevo é acidentado e as altitudes oscilam entre 780 e 1.000 metros acima do nível do mar. Possui aves raras e rica flora epífita (vegetal que vive sobre um outro, sem tirar nutrimento, apenas apoiando-se nele), como as orquídeas. Além disso, abriga muitas espécies com características de Mata Atlântica do tipo encostas.

Este parque foi criado em 1948 com o nome de Nova Lombardia e transformado oficialmente em Reserva Biológica em 1986. Seu nome foi alterado para Reserva Biológica Augusto Ruschi em homenagem ao naturalista. Como não é um Parque Nacional, só são permitidas visitas de cunho científico e de pesquisa. Entretanto, a estrada que corta a reserva, ligando as localidades de seu entorno, pode ser percorrida livremente.



Localização
Alto Santo Antônio, a 7 km da sede.




Vale do Canaã

Este foi um dos locais onde se iniciou a colonização de Santa Teresa. Este vale inspirou o escritor Graça Aranha a escrever o romance Canaã, lançado em 1902. O livro descreve a convivência entre pessoas de culturas diferentes, diante dos desafios provocados pela colonização. Canaã significa terra rica, fértil, lugar prometido e meta de sonhos e ambições.


Localização
Situa-se a apenas 2 km do centro da cidade.

Gilberto Freyre na FLIP 2010 e no IHGB

Gilberto Freyre em artigo de Ideias & Livros
Gilberto Freyre (1900-1987), consagrado autor de Casa grande & senzala e fundador do Movimento Regionalista, foi o homenageado da oitava edição da Feira Literária Internacional de Parati, realizada de 4 a 8 de agosto naquela cidade.
À conta disso, seu nome foi tema de mesas redondas (Além da casa grande, com Alberto da Costa e Silva, Maria Lucia Pallares-Burke e Ângela Alonso e mediação de Lilia Schwarcz; Repensando Freyre, com Peter Burke, Joaquim Falcão e Rosa Maria Araujo, e Gilberto Freyre e o século XXI, com José de Souza Martins, Peter Burke e Hermano Vianna), argumento de filme (Gilberto Freyre, o Cabral moderno, de Nelson Pereira dos Santos) e lançamento de livro, com leitura de trechos (De menino a homem, de sua autoria) e ocupou as páginas dos cadernos literários dos principais jornais. Fernando Henrique Cardoso, seu crítico dos anos 50 e 60, revisitou-o com um novo olhar, na conferência ‘Casa grande & senzala: um livro perene’, com que abriu o evento; Edson Nery da Fonseca seu conterrâneo, destacou-lhe a visão generalista que lhe permitia transitar da sociologia para a antropologia, sem deixar-se aprisionar nos jargões científicos (Prosa & Verso) e Raimundo Carrero, a busca continuada da excelência literária e do leitor comum (Ideias & Livros), ambos de 31 de julho.
Pintura do Castelo da Torre de Garcia d’Ávila de autoria de Gilberto Freyre
Hoje transformado em verdadeira unanimidade, e com muitos escritos ainda por organizar, Freyre foi também lembrado por duas facetas em que é menos conhecido: a de poeta e pintor. Nery levou para a FLIP o poema “Bahia de todos os santos e de quase todos os pecados”, escrito por Freyre em 1926, muito antes, como destacou, da exaltação dos valores baianos por Ary Barroso e Dorival Caymmi, e chamou a atenção para a íntima ligação de sua pintura com a sua visão de sociólogo, “porque pintava casas grandes, senhoras de engenho, o capelão da casa grande, os assuntos eram sempre estes”.
Eleito sócio honorário do Instituto em 1954 e passando a correspondente em 1976, Freyre nele se acha presente não apenas em 80 títulos de sua obra, como também nas páginas de sua revista, com um sugestivo artigo sobre a obra de Pedro Calmon, onde se auto-intitula “um sociólogo da história” (R.IHGB, 147(351), abr./jun. 1986), e, ainda, na sua coleção de telas, com a pintura do Castelo da Torre de Garcia d’Ávila, oferecida ao Instituto por Marcos Carneiro de Mendonça e ora aqui reproduzida e cuja temática confirma a opinião acima referida.

HISTÓRIA DO CONGO

Nos últimos anos o congo tem ocupando cada vez mais, lugar de destaque nos veículos de mídia, e nas discussões entre os artistas e intelectuais. No entanto, são poucas as informações sobre a origem e formação desses conjuntos musicais, que já foram chamados de bandas de índios, bandas de congos, e atualmente bandas de congo. O congo é considerado por estudiosos das tradições populares do Espírito Santo, como uma dança folclórica, por ser um grupo musical de estrutura simplificada, com dançadores e um dirigente (mestre), possui coreografia própria, sem texto dramático, e outras pessoas podem ser incluídas, isto quer dizer: podem participar desta manifestação, que possui características próprias sem igual em outros estados do país.

AS BANDAS DE ÍNDIOS

A origem das bandas de congo é anterior ao século XIX. Entretanto, a sua formação inicial foi perdida com a aculturação dos povos indígenas. Esses grupos musicais, descendem dos cantos e rituais dos índios. O historiador e mestre Guilherme Santos Neves, que muito contribuiu para o conhecimento do nosso folclore, conta-nos que os primeiros registros impressos sobres elas, conhecidas como Bandas de Índios, são do Padre Antunes de Siqueira (1832-1897), poeta, teatrólogo, educador e filólogo, natural de Vitória, exerceu as funções de sacerdote em São Mateus e na Aldeia Velha (Santa Cruz), por volta do ano de 1855. Ele descreveu a forma do primitivo conjunto musical, integrados por índios Mutuns, que habitavam as margens do Rio Doce: "Nas danças acocoram-se todos em círculo, batendo com as palmas das mãos nos peitos e nas coxas".(1) Indica também o instrumental por elas utilizado: "Os cassacos (casaca), um bambú dentado, corrida a escala por um ponteiro da mesma espécie; e também tambores feito de pau cavado, às vezes oco por sua natureza, tendo em uma das extremidades um couro, pregado com tarugos de madeira rija (...). A eles juntam o som produzido por um cabaz {cabaça}, cheio de caroços de sementes do mato". (2) Esse instrumental das Bandas de Índios descrito por Antunes de Siqueira, permanece até hoje nas bandas de congo, devidamente adaptados.

biard Outros registros importantes da existência das bandas de congo no século XIX, são: os do viajante francês Auguste François Biard (foto), e do Imperador Pedro II. Biard as descreve no seu livro de viagens, quando visitou Santa Cruz (atual município de Aracruz), em 1858. Destaca o seu encontro com indígenas por ocasião da Festa de São Benedito. O naturalista francês, encantado com a passagem do cortejo, registrou a cena em desenho, legando-a para a posteridade.

dompedro Sua Majestade Dom Pedro II, quando passou pela Vila de Nova Almeida, em 1860, fez questão de desenhar (foto) em seu diário, "o nosso reco-reco de cabeça esculpida, anotando-lhe, inclusive, o nome 'cassaca' ".

A esses preciosos documentos, mestre Guilherme Santos Neves, acrescenta o de D. Pedro Maria de Lacerda, Bispo do Rio de Janeiro, em visita ao Espírito Santo, entre 1880 e 1886. Os seus escritos narram fatos importantes sobre as autênticas bandas de congo: No dia do aniversário da Igreja dos Reis Magos em Nova Almeida (município da Serra), observou entre o conjunto de índios a presença de um "negro velho" e a maneira dos músicos tocarem os tambores: " É de saber que os tocadores de guararás (tambores), quando vêm, os trazem debaixo do braço, e quando param, montam-se sobre ele e com ambas as mãos batem no couro de uma das bocas. (...) Os mais ficam em pé. Adiante do tambor é que se dança, que é simplésima, mas tem sua graça; o capitão, esse que tem na mão a vara, que ele empunha com muito garbo." (5) Nas suas anotações, o Bispo refere-se ao Capitão: "Visitou-me o Capitão dos Índios por nome João Maria dos Santos." E explica: Um Capitão de Índios hoje é apenas um nome, como o do Imperador do Divino e Rei do Congado. Para as danças é ele o Presidente ". (6)

caieras Em visita posterior à localidade de Fundão, o Bispo observou que à dança puramente indígena, "A dança é mui modesta e descente: consiste em algumas piruetas, sem saltos, elevação do pé estendido para diante, algum cruzamento de pernas, e sapateados"; (7) havia uma mistura de dança de negros, com mais animação: (...) Outros dançaram, (...) com saltos, muito cruzamento de pernas, que também às vezes separavam e logo uniam, e que outras vezes arqueavam. (..) Dois meninos dançavam assim com muita graça. Quando um acaba aponta outro, que deve apresentar-se pertinho dos guararás (tambores) e dali começa a dança." (8) Outra observação interessante sobre esse episódio ocorrido defronte a pequena capela do lugar, trata do processo ainda utilizado para afinação dos guararás (tambores), aquecendo as peles, próximo à uma fogueira, o que para o Bispo ficou algo incompreendido: "Fizeram uma boa fogueira, de cavacos, que pouco durou, e não fazia necessário porque a noite estava clara e fazia algum luar". (9)

Segundo as pesquisas do mestre Guilherme, "essa intromissão do elemento negro no folguedo ameríndio é que deu agitação e vida ao conjunto musical e dançante".(10) Os negros acrescentaram sua maneira descontraída e auto-expressiva de dançar. "(...) sem nenhuma repressão dos impulsos individuais; sem a impassibilidade das cerimônias indígenas" (11)

Ao registrar a participação dos negros nas Bandas de Índios, o Bispo D. Pedro Maria Lacerda, curiosamente datou em 1880, essa apropriação por empréstimo entre o folclore afro-brasileiro e o dos índios nativos.

A permanência dos negros de cultura banto (originária de Angola), em solo capixaba durante o ciclo do café, favoreceu a participação deles nas bandas de congo, "ao reviver as cortes africanas, com pompa e magnificência, organizaram-se hierarquicamente, para louvar a Virgem do Rosário e São Benedito",(12); além de São Pedro, São Sebastião e Nossa Senhora da Penha, a padroeira do Espírito Santo.

Esse complemento das festas dos santos, a devoção, a dramatização e o cenário, a reunião nas praças das igrejas, em torno das quais cresciam os povoados, tem algo da cultura ibérica.

"Os padres jesuítas {portugueses e espanhóis}, tiveram participação nesse processo, ao cuidarem da catequese dos índios, e prestar assistência moral aos colonos portugueses, passaram a introduzir total ou parcialmente as expressões nativas nas artes (música, teatro e dança);" (13) com o intuito de reunir toda a gente, e apaziguar os ânimos entre os indígenas e os colonizadores, que como sabemos, viviam em conflito.

O teatro religioso, empregado desde a Idade Média para veicular idéias e ensinamentos foi desenvolvido em terras capixabas pelo padre José de Anchieta. "Ele escreveu autos e poesias, que deram origens a outros possivelmente inseridos nas nossas manifestações folclóricas". (14) Esses autos, além das festas e alardos portugueses, eram representados em Vitória, desde o século XVI, na praça ao lado do Palácio Anchieta, hoje, sede do Governo Estadual.

Os colonizadores portugueses também trouxeram os seus costumes, e aqui permaneceram juntando ao mesmo tempo os modelos lusitanos, as formas afro-brasileiras e as de inspiração indígena. Essa junção de culturas, como acontece em outros Estados brasileiros, principalmente os do Nordeste, fez com que no Espírito Santo, o maior número de danças e folguedos populares fossem vinculados às comemorações do nascimento de Cristo, ou realizados em sua homenagem, porque são apresentados unicamente nas datas próximas do Natal, denominadas de festas do ciclo natalino. Outras correspondem aos dias dos santos: dia 26 de dezembro dia de São Benedito; e Nossa Senhora da Penha no dia 08 de abril. É bom lembrar, que o culto a São Benedito, muito venerado em Portugal e Espanha, foi trazido pelos colonizadores. Os índios catequizados o adotaram. O viajante Biard, cita em seu relato sobre a banda de índios, o fato de em meio ao cortejo, um índio paramentado que levava a imagem do santo, filho de escravos, nascido na Sicília-Itália, que viveu pobremente e peregrinou pelos países da Europa Ocidental.

Os ilustres personagens que registraram as primeiras referências sobre as bandas de congo, esqueceram-se de escrever no entanto, o que eles cantavam. Mas por certo, graças a esses registros valiosos, é que hoje conhecemos a sua origem: uma dança ritual dos ameríndios, tomada por empréstimo pelos afro-brasileiros e os portugueses, que nelas imprimiram seus traços culturais: religiosos, lingüísticos, musicais, danças rituais e crendices.

AS CORTES DO REI CONGO DE ANGOLA

Outro grande mestre, incentivador e divulgador do folclore capixaba, Hermógenes Lima Fonseca, em depoimento sobre nossas manifestações populares assim refere-se a elas: "É como eu disse né, a turma vai astuciando coisas pra se tornar diferente; porque o folclore não é uma coisa estática, ela evolui; o povo está sempre criando aí criando". (Primeiro CD do grupo Manimal, faixa 1).

As Bandas de Congo, foram assim se modificando com o passar do tempo. O nome guarará, foi mudado para congo ou tambor, por isso, o conjunto veio a ser denominado banda de congo, como hoje é conhecido, e que faz melhor referência à África, "as cortes do congo tem a sua origem em Angola". (15) Também o termo massaraca ou massacaia, foi mudado para chocalho ou sucaio. Feito de cabaças, tendo no seu interior sementes do mato, que hoje são substituídas por grãos de feijão e milho. Outro instrumento de origem africana, a puita ou cuíca, foi introduzido. Permaneceu o cassaco, "também chamado cassaca ou cassaco, ou ainda por contaminação, canzaco, evidente influência de canzá ou ganzá, que seria termo quimbundo, segundo os entendidos em línguas africanas" . (16)

Somam-se a essas transformações, as anteriormente referidas sobre o "modo de dançar dos negros e mais as toadas, onde se encaixam aqui e ali, termos e expressões africanas, referências à escravidão, entoadas dentro do ritmo negro, quente e sensual." (17)

panela Quando em 1951, comemorava-se o IV Centenário da Cidade de Vitória, foi realizada a primeira concentração de bandas de congo; nesse evento já se notavam diferenças entre os conjuntos. Segundo mestre Guilherme Santos Neves, a de Caieiras Velha (Santa Cruz), "conservava o instrumental mais rústico: os tambores (troncos ocos) e os cassacos não apresentavam a mesma forma dos outros, não sendo, na sua feitura, utilizados pregos, mas tarugos de madeira" (18), e à monotonia dos seus cânticos, compostos por dois ou quatro versos repetidos continuamente, remetem àqueles observados em 1880 pelo Bispo Pedro Maria Lacerda em Nova Almeida e Fundão. A cidade de Vitória esteva bem representada. A Banda de Congo Amores da Lua, das mais conhecidas, teve sua origem no Bairro Santa Marta, quando o ferroviário Alarico de Azevedo, a professora Jacinta Souza e o devoto de São Benedito Alfredo Manoel Silva se encontraram em 20 de março de 1945. Outra Banda participante foi a "Panela de Barro", fundada em 1938. O dono da banda (em 1982), era Arnaldo Gomes Ribeiro, proprietário da fábrica de panelas de barro em Goiabeiras, bairro da zona norte da capital. "Daí o nome Banda de Congo 'Panela de Barro' ". (19) Referência ao artesanato típico fabricado pelos seus integrantes, que é utilizado para preparar nossas delícias da arte culinária: moqueca e torta capixaba.

Tradicionalmente o conjunto é formado por 10 a 30 pessoas. Só os homens tocam os instrumentos. As mulheres representam as Rainhas, trajam vestidos longos, nas cores azul ou branco, com enfeites, e levam à frente o estandarte com o Santo de louvor, São Benedito, São Sebastião, São Pedro, Nossa Senhora do Rosário. Uma das antigas festas realizadas pela Irmandade dos Pretos do Rosário e São Benedito no centro de Vitória, eram os Bailes de Congo, representados no adro da Igreja do Rosário, por doze meninas vestidas e enfeitadas e uma gorda matrona.

SONS DA NATUREZA E CANTO DA ALMA

A casaca: Instrumento peculiar das Bandas de Congo, recebe outras denominações conforme o lugar: cassaca, canzaca, canzá, ganzá, carcaxá, reque-reque e reco-reco. Ao tocador dá-se o nome guerreiro de tocador de reco-reco ou reco-requista, canzaqueiro, conguista, casaquista e folgador, segundo inquérito realizado em 1953 pela Comissão Espírito-santense de Folclore. Também aparece em outras manifestações folclóricas brasileiras como o jongo e o caxambu, também presentes no Espírito Santo.

instrumentos É uma das variações do reco-reco. A cabeça esculpida é que lhe dá o diferencial, fazendo dele um instrumento antropomórfico (de forma humana). Os congueiros esculpem uma cabeça humana no topo do instrumento, deixando o pescoço como local para segurá-la, enquanto o corpo , o casaco, é revestido com o reco-reco de madeira dentada, (esses instrumentos de percussão, são conhecidos como diáfonos, por possuirem a sonoridade própria do material com o qual foram fabricados, através de atrito ou fricção) .

Segundo informações coletadas por Michel Dal Col Costa, da Casa de Congo Mestre Antonio Rosa, da Serra, alguns velhos congueiros afirmam que, quem era esculpido na casaca era alguém odiado pelo grupo, como capitães do mato e maus senhores. O fetiche, era uma forma de satirizar esses homens terríveis, agarrando-os pelo pescoço, costume introduzido aqui por escravos afro-brasileiros. O instrumento é fabricado tradicionalmente com uma madeira de alagadiços chamada tagibubuia. Na Serra, o artesão local de nome Tute, vem fabricando uma nova versão do instrumento, utilizando canos de PVC, ao invés da madeira nativa. Sem perder a qualidade estética e a sonoridade original, está sendo adotada por diversos congueiros.

O modo de tocar os tambores (guararás), sentado sobre eles cavalgando-os, e os instrumentos originais dos índios, a casaca e o chocalho, aos quais os negros ajuntaram a cuíca, são complementados por outros: apito, triângulo(ferrinho), caixas, sanfonas (estas por influência da imigração italiana como ocorreu em Colatina-ES), pandeiros e ganzás. Os instrumentos são pintados nas cores da banda. Os da Banda de São Benedito na cidade da Serra, tem as cores verde e rosa, e em Cariacica, no grupo do mesmo santo de louvor, eles são pintados de verde.

As canções: Guardadas de memória ou improvisadas, elas falam de temas variados: "o mar, o amor, a natureza, a devoção aos santos e, por vezes a morte; (...) concorre para fazê-las triste a maneira dolente de cantá-las prolongando demasiadamente as vogais finais do último verso do refrão, que mais parecem lamentos e gemidos em âââââ, em êêêêê, em ôôôôô." (20) Um trecho dessas canções que falam de amor, foi recolhido na Serra em 1954 por mestre Guilherme:

Eu tô chorando ô Maria
Vem me acalentá ô Maria
Por causa do amor ô Maria
Que me faz chorá
Ô Maria....

rosa Nas últimas décadas do século XX, simultaneamente à paralisação de alguns tradicionais conjuntos de Congo do Espírito Santo, por falta de instrumentos, organização e incentivos, surgiu um movimento em prol de sua valorização. Se hoje o Congo está vivo, e novas bandas estão em ação, devemos isso ao empenho de Mestre Antonio Rosa, que foi mestre da Banda de Congo de São Benedito da Serra/ES. Foi ele responsável por manter - pela permanência das tradicionais bandas de congo serranas - os segredos sobre a fabricação artesanal dos instrumentos utilizados pelas bandas, e pela formação de artesãos para a sua construção. Além deste incentivo auspicioso, foi também guardião de muitas histórias do Congo.

RITUAIS PROFANO-RELIGIOSOS

Segundo mestre Antonio Rosa, os 25 músicos que integram as bandas, representam os 25 escravos que se salvaram do naufrágio do navio Palermo nas proximidades do litoral de Nova Almeida, em 1856, agarrando-se ao mastro que continha uma imagem de São Benedito. Desde então, as comunidades de negros do litoral capixaba passaram a fincar o mastro todos os anos para agradecer o milagre, São Benedito é louvado nas festas do mastro, com a cortada, a puxada e a fincada. A Festa de Congo de São Benedito, e as cerimônias do mastro começam duas semanas antes dos dias 25 e 26 de dezembro, respectivamente o dia de Natal e o dia do Santo. Na Serra um cortejo sai pelas ruas da cidade, com o barco, o mastro e a bandeira do santo, e as bandas tocando os seus instrumentos, acompanhado pelo povo que entoa as suas cantigas. Ao final, com grande satisfação e espocar de fogos, o mastro é fincado em frente à igreja de Nossa Senhora da Conceição. Para fechar esse ciclo, no Domingo de Páscoa acontece a derrubada do mastro, que é retirado da praça e levado pelo povo através das ruas da cidade, em uma coreografia que lembra o movimento das ondas do mar revolvendo o mastro, no qual os sobreviventes do Palermo se agarraram, e foram levados até a praia, por um milagre do Bino Santo. A representação é acompanhada pelas bandas de congo em todo o seu trajeto.

Outro festejo que merece destaque é o Congo de Máscaras de Roda D'água de Cariacica/ES, realizado pela Banda de Congo de Santa Isabel, e bandas convidadas. Segundo o historiador e folclorista Eliomar Mazoco, autor do livro 'Congo de Máscaras', "a festa acontece três vezes por ano: no Domingo de Ramos, no domingo seguinte, e no dia de Nossa Senhora da Penha. Só os membros da comunidade participam da brincadeira. Eles confeccionam as máscaras com moldes de barro e papel marche" (21), e fazem as fantasias, com roupas usadas, papel, folhas de bananeira e outros materiais. Os instrumentos e máscaras eram feitos pelo mestre Queiroz. Outra banda local, é a São Benedito de Cariacica, fundada em 1937, que conta ainda, com um de seus fundadores, Benedito Epifânio.

madalena Mestre Antonio Rosa, lembrava sempre da figura do "tio Zé", José Maria da Silva, o autor da maioria das músicas de congo, e da mais famosa delas: "Madalena, Madalena", que ele fez para sua filha quando do seu nascimento. A música foi popularizada, através de sua gravação pelo sambista Martinho da Vila, que a escutou pela primeira vez na Barra do Jucu (Vila Velha), com a letra modificada, adaptada pela banda local, pois cada banda de congo possui suas características próprias, seja quanto aos versos das músicas, ao número de integrantes, aos instrumentos e as cores com que são pintados. A repercussão de "Madalena", chamou a atenção dos capixabas para a importância do congo, uma manifestação sem igual em todo o Brasil.

Outro movimento importante, que contribuiu para a divulgação do congo, surge na última década do século XX, tendo à frente o maestro Jaceguay Lins e jovens músicos capixabas, que com a Banda Dois, uniram o ritmo do congo ao rock.

Em meados dos anos 90 a banda Manimal, deflagra de vez o ' rockongo', tornando-o reconhecido pelo público, e divulgando o folclore capixaba em shows por estados brasileiros e países do exterior.

CONGO ELÉTRICO

Em 2001, uma banda de nome Casaca, faz sucesso entre jovens, crianças e adultos, consolidando a fusão do ritmo de raízes capixabas com o rock. Seus integrantes têm participação na Banda de Congo da Barra do Jucu (Vila Velha/ES), mostrando que os músicos de 'rockongo', pesquisam o ritmo e seus instrumentos, e tem afinidades com o congo tradicional.

As bandas Manimal e Casaca, incluem em seu repertório canções como "Nhá, nhá você vai à Penha", e outras cantorias das bandas de congo, acompanhados pelo público jovem. Intérpretes da música popular capixaba como Andréia Ramos, Danilo Diniz e Jonathan gravaram congos em seus CD's.

Também há o surgimento de bandas de congo mirins. A primeira Banda de Congo Mirim foi formada sob orientação da extinta LBA, no ano de 1980, na Barra do Jucu, de acordo com um de seus moradores, o artista plástico Kleber Galvêas. Associações de Apoio ao Folclore foram criadas em diversos municípios capixabas para buscar incentivos para organizar e estimular grupos diversos, bandas de congo tradicionais e formar bandas mirins. Na Serra foram formadas a Banda de Congo Mirim de São Benedito e Santo Antônio de Pádua da Serra Sede (organizada por Dona Lolinha, espôsa do mestre Antonio Rosa), e Banda de Congo Jovens em Prol da Cultura de Nova Almeida.

A Associação Cultural Caieiras, formou através do "Projeto Congo na Escola", a Banda de Congo Mirim da Ilha, que durante três anos, vem desenvolvendo oficinas de história e música do congo, e de fabricação de instrumentos, com crianças dos Bairros da Grande São Pedro e adjacências, colaborando para o processo de formação educacional e da cidadania de menores em situação de risco social. A banda, tem em seu currículo apresentações junto a artistas profissionais e experientes, como: a banda Manimal, Kátia Rocha, Ed Motta, João Bosco, Banda Big Beatles e Orquestra Filarmônica do Espírito Santo.

Atualmente a Comissão Espírito-Santense de Folclore, planeja realizar um mapeamento do folclore capixaba. Segundo o seu presidente Eliomar Mazoco, talvez existam aproximadamente sessenta bandas de congo em atividade no Estado, mostrando que as bandas de congo, estão vivas na memória do povo. Devemos também louvar aqueles que se dedicaram a contribuir para a sua permanência, através de incentivos, da organização, dos apoios, e dos registros escritos, visuais e sonoros, confirmando as sábias palavras de mestre Armojo: de que " o povo está sempre criando, aí criando...".


Notas Bibliográficas.

1- Neves, Guilherme Santos - Bandas de Congo, Cadernos de Folclores, nº 30, Rio de Janeiro, Ed. FUNARTE, 1980, p.3.
2- idem. p.3.
3- ibidem. p.5.
4- ibid. p.4.
5- ibid. p.6.
6- ibid.
7- ibid.
8- ibid.
9- ibid. p.8.
10- ibid.
11- InstitutoNacional do Folclore, Atlas Folclórico do Brasil - Espírito Santo - Rio de Janeiro, FUNARTE, 1982, p.57.
13- idem.
14- ibidem.
15- ibid. p.74
16- Neves, Guilherme Santos, in op. cit., p.12.
17- idem.
18- ibidem. p.17.
19- ibidem, p.31.
20- Gama, Oscar, História do Teatro Capixaba, apud. Aristides Freire, p. 191, Vitória, FCAA e FCES, 1981.
21- Neves, Guilherme Santos, in op. cit., p.20.
22- Mazôco, Eliomar Carlos - O Congo de Máscaras, Vitória, Universidade Federal do Espírito Santo, 1993.
BIBLIOGRAFIA.

A GAZETA - CADERNO DOIS - Vitória, segunda-feira, 17 de novembro,1997, p.1.
Instituto Nacional do Folclore, Atlas Folclórico do Brasil - Espírito Santo, Rio de Janeiro, FUNARTE, 1982.
Fonseca, Hermógenes Lima - Tradições Populares no Espírito Santo, Vitória, Departamento Estadual de Cultura, 1991.
Gama, Oscar - História do Teatro Capixaba, 395 anos, Vitória, FCAA. e FCES., 1981.
Mazoco, Eliomar Carlos - Congo de Máscaras, Vitória, UFES, 1993.
Neves, Guilherme Santos - Bandas de Congo - Cadernos de Folclore nº 30, Rio de Janeiro, FUNARTE, 1980.
Novaes, Maria Stella de - História do Espírito Santo, Vitória, Fundo Editorial do Espírito Santo.
Rocha, Levy - Viagem de Pedro II ao Espírito Santo, 2ª Edição, Rio de Janeiro, 1980.
SÉCULO - O Espírito Santo em Revista - Vitória, ano III, nº 23, janeiro 2002. pp. 7-17.
Siqueira, Padre Francisco Antunes de - Esboço Histórico dos Costumes do Povo Espírito-Santense Desde os Tempos Coloniais até nossos Dias, Rio de Janeiro, Tipografia G. Leuzinger & Filhos, 1893.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Rio de Janeiro vive verdadeira guerra urbana

Guerra_urbana
Equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e fuzileiros navais fazem uma megaoperação na região das favelas na Penha, subúrbio do Rio no final da manhã desta quinta-feira (25). Seis veículos blindados da Marinha e dois caminhões com fuzileiros deixaram há pouco o quartel de fuzileiros navais, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
A expectativa é que os policiais se dirijam par a Vila Cruzeiro, onde bandidos armados se concentram. O comboio da polícia, com mais de dez veículos do Bope, chegou à região hoje cedo. O clima é de tensão na região.
Mais cedo, quatro homens em duas motocicletas tentaram utilizar um caminhão de lixo para bloquear a passagem na Rua Tenente Luís Dorneles, na entrada do Grotão, na Vila Cruzeiro. Segundo a Comlurb, os bandidos teriam ordenado que o motorista permanecesse no local bloqueando o acesso à comunidade. Ainda de acordo com a empresa, depois de dar a ordem, eles teriam deixado o local e o motorista ligou o caminhão e fugiu.
Hospital tem emergência reforçada
A Secretaria estadual de Saúde informou que reforçou o atendimento nesta quinta-feira (25) na emergência do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, no subúrbio do Rio. Médicos do Corpo de Bombeiros foram deslocados para a unidade para atender os possíveis feridos da operação policial na Vila Cruzeiro, no mesmo bairro.
Segundo a secretaria, desde a última quarta-feira (24), 21 pessoas que estariam na comunidade durante o confronto entre a polícia e os criminosos chegaram feridas ao hospital. Dessas, quatro morreram e três continuam internadas na unidade.
Ataques desta quinta-feira (25)

Bombeiros foram acionados na manhã desta quinta-feira (25) para conter as chamas de um ônibus na Rua Caxambu, perto da estação do metrô de Irajá, e de outro na Rua Guiraréia, ambas no bairro de Rocha Miranda, no subúrbio do Rio. Eles chegaram a confirmar os dois veículos incendiados, mas, ao chegarem à Rua Guiraréia, os bombeiros encontraram apenas pneus em chamas, e não um ônibus.
Policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) ainda não confirmaram se os incêndios foram criminosos ou não. Não há informações sobre vítimas.

Nesta madrugada, foram outros 4 ataques em diferentes pontos do estado e deixaram uma pessoa ferida, totalizando 5 veículos incendiados nesta quinta (25). Segundo a Polícia Militar, os ataques foram registrados na Penha, no subúrbio; em Mesquita, na Baixada Fluminense; em Laranjeiras, Zona Sul; e na Barra da Tijuca, Zona Oeste. Desde segunda-feira (22), já foram registrados 42 incêndios em carros, vans, ônibus e caminhões.

Que o estado permaneça …

Tráfico-drogas-Rio
Parece não se falar em outro assunto nos últimos dias. A invasão da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão tem chamado atenção pelo fato de que representa, o que boa parte da população sempre quis ver. Finalmente o estado assume a responsabilidade e começa a, pelo menos aparentemente, botar ordem na casa.
Pelos comentários que pude ver na TV e na internet percebe-se que a população, diferentemente de outras épocas, vem apoiando incondicionalmente as ações do estado e parabenizando a polícia pelos seus feitos. Não é de se admirar. Afinal, há tempos que os brasileiros e principalmente os cariocas desejavam um Rio de Janeiro menos violento e perigoso. Constata-se, da mesma forma, uma certa agressividade da população para com os traficantes. Fato também passível de compreensão, pois nos últimos anos estes vêm demonstrando uma completa falta de respeito à vida humana.
O que chama a atenção é que boa parte das pessoas parece não se preocupar com o que virá depois que os confrontos cessarem. Devemos lembrar que a situação é crítica porque durante décadas o Estado se manteve ausente dessas regiões, cedendo áreas ao crime organizado. Parece-me coerente que para se manter o estado de paz na região o Estado precisará fixar sua presença, fornecendo elementos que jamais proveu a este seguimento da sociedade.
Devemos combater com rigidez os bandidos e traficantes de hoje. Isso é inegável. Mas não podemos deixar que as crianças que ainda estão por vir vivam em condições sub-humanas. Elas precisam crescer em um lugar com oportunidades, com justiça social. É inacreditável que em pleno 2010, no final da primeira década do século XXI, o brasileiro ainda não tenha se dado conta que não adianta querer #paznorio se ainda pudermos constatar a estúpida disparidade social carioca, que coloca frente-a-frente os afortunados e os marginalizados

do professor no século XXI.

do professor no século XXI.

Sendo um professor jovem e portanto ainda sem a experiência devida, sempre procurei vários conceitos e idéias de como ser um professor ideal. Levando-se em consideração a nossa atual conjuntura isenta de valores éticos e morais por parte da nossa sociedade, tornar-se um professor de qualidade é uma tarefa mais árdua do que nunca.

Diante dos atuais problemas de aprendizado dos alunos, constantemente ouvimos a informação de que isso era justificado pela falta de preparo e didática dos educadores. Desta forma, freqüentemente buscava dar aulas de formas diferentes das tradicionais. Ora usando da irreverência, ora utilizando os mais variados recursos tecnológicos que me eram concedidos. Na medida do possível. No entanto, constatei um grande problema nos alunos atuais. É claro que possuímos alunos distintos e, portanto, com realidades diferentes. Todavia, a grande maioria possui uma característica bastante peculiar.

Os pais, de forma geral, atribuíram a função de educar para a escola, se abstendo totalmente da sua responsabilidade. Além da questão disciplinar que está cada vez mais fora do controle, valores como ética e honestidade andam cada vez mais ausentes dos meios familiares. Se possuímos, então, alunos sem a devida orientação dos pais, desde as primeiras fases da vida, dificilmente a escola conseguirá obter êxito.

Em muitos conflitos na escola, os pais tomam partido de seus respectivos filhos contra um professor ou mesmo contra a escola. Com isso, a maior parte dos alunos possui o aval de seus responsáveis para que continuem praticando atos dolosos à ordem da instituição. Desta forma, percebe-se como anda difícil conseguir um padrão elevado de ensino.

Atrelado a este problema, a atitude de órgãos voltados ao "direito" da criança, acabam por ajudar a proliferação de pseudo marginais na escola. Sem ter como se defender, a escola fica a mercê de alunos problemas sempre encarados como vítimas do sistema. É claro que não podemos bani-los da sociedade, afinal de contas realmente são vítimas do atual modelo. Contudo, na atual condição, deixam de dar a devida atenção para os alunos realmente comprometidos com o ensino, para bajular menores infratores que deveriam estar recebendo tratamento especial do estado.

Muitos acreditam que o futuro da educação está na tecnologia, outros na inovação da didática e performance dos professores. Alguns ainda dirão que o que falta é investimento na infra-estrutura. Mas digo a vocês de todo coração, enquanto não trouxerem os pais para a vida estudantil dos alunos fazendo-o trabalhar em cooperação com as escolas, dificilmente teremos bons frutos no futuro.

Pode não parecer muito claro para alguns, mas tenho exemplos próximos que comprovam essa afirmação. Somos em quatro irmãos em minha casa. Contando com os sobrinhos e filhos somam-se mais seis até agora. Nenhum até hoje obteve reclamações na escola e sempre foram destaques pela disciplina e aplicação nos estudos. Necessário salientar que sempre estudamos em escolas públicas. O segredo desse sucesso? Pais realmente comprometidos com o futuro de seus filhos. Apenas isso.

Um grande abraço a todos.

Os desafios de ser professor no século XXI

Como lidar com o acúmulo de informação, a velocidade da tecnologia, a transformação constante da prática pedagógica e descobrir o papel do professor no século XXI? Essas perguntas deram a tônica do segundo dia do 4º Encontro Internacional Rio Mídia.
Fábio Aranha
O que é ser professor no século XXI? Essa é uma pergunta para a qual não há resposta fácil. Mas uma coisa é certa, o nosso tempo, caracterizado por mudanças constantes e velozes, traz desafios para o professor e o estimula a repensar continuamente sua prática. Esta foi a tônica das palestras realizadas na segunda mesa-redonda do segundo dia de debate do 4º Encontro Internacional RIO MÍDIA, que aconteceu no dia 28 de agosto, no Auditório da Casa do Comércio, no Rio de Janeiro.
Para Ana Smolka, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), há um intenso debate que envolve uma diversidade de argumentos e de pontos de vista de como ver a interlocução do professor. Mas algumas questões são preponderantes, como as dimensões da produção de conhecimento, as suas condições de trabalho e vida, além das contradições de sua experiência individual, social e histórica.
Smolka diz que a rapidez das mudanças, no mundo de hoje, é quase sufocante e é preciso descobrir como lidar com o acúmulo de conhecimento. O professor do século XXI tem incorporada toda a produção intelectual dos séculos passados e seu desafio é se formar e transformar sua prática constantemente, levando em conta as produções culturais e históricas atuais. Para ela, é preciso debater qual é o papel do professor na relação de ensino. “É importante pensar em como fazer a formação de professores diante destas questões que estão colocadas”, comentou.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Wania Clemente, acredita que o professor do século XXI está enraizado no presente dinâmico e no processo de constituição de conhecimentos e valores éticos, estéticos e políticos que emergem na realização da prática educativa, presencial ou à distância, a partir de interações recorrentes com o meio. Em sua opinião, o contexto midiatizado do século XXI impõe desafios aos educadores. “É preciso estar atento para refutar as visões simplistas que opõem as múltiplas linguagens à realidade escolar. Também se faz necessário estender e inventar a prática educativa, compreendendo o cruzamento e a aproximação de três vetores: tempo, espaço e velocidade. Por último, é preciso promover mudanças estruturais de ação-reação-ação”, ressaltou.
Neste contexto, afirmou, os diferentes setores da sociedade também têm responsabilidades, como mobilizar o poder público a promover ações concretas, ou seja, políticas públicas, tornando-se co-responsável. Também lhes cabe denunciar formas de controle, que utilizem as tecnologias para concentrar poder e conter a criatividade e a inventividade.
Para Wania, os professores deveriam ser estimulados a explorar as possibilidades de perturbação, transgressão e subversão das identidades existentes. “É preciso estimular, em matéria de identidade, o impensado e o arriscado, o inexplorado e o ambíguo, em vez do consensual e do assegurado, do conhecido e do assentado. Favorecer, enfim, toda experimentação que torne difícil o retorno do ‘eu’ e do ‘nós’ ao idêntico”, finalizou.
A diretora do Departamento de Mídia e Educação da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Simone Monteiro, mostrou o resultado de uma pesquisa feita na rede de ensino do município sobre o que é ser professor no século XXI. Dos 201 entrevistados, 74% afirmaram que é um desafio e que é preciso estar aberto ao novo e ressignificar sempre a prática. Cinqüenta por cento afirmaram que ser professor neste século é saber lidar com as novas tecnologias, mídias e as diferentes linguagens do mundo atual.
O lado humano da prática docente também foi lembrado pelos pesquisados. Dez por cento disseram que é pensar no aluno, estar conectado com ele. Outros 9% disseram que é compreender o tempo atual e se relacionar com ele. Mais 3,5% comentaram que é gostar de contato com o ser humano, com as pessoas. Por último, 3% afirmaram que é preciso ter poderes sobrenaturais para lidar com as dificuldades de ser professor nos tempos atuais.
Simone ressaltou que o presente século traz questões que demandam novas atitudes por parte do docente. “A pesquisa mostra uma preocupação do professor em ser plural, dialogar com o novo, estar aberto às novas tecnologias e linguagens, mas sem perder as suas raízes, seus valores, sua vivência. Temos que pensar quais são nossos desafios frente à velocidade, às novas tecnologias, à fragmentação e à turbulência", finalizou.